quarta-feira, 24 de março de 2010

24 de março

Há exatos 23 anos eu, mesmo sem entender muita coisa, perdia a melhor parte de mim.
Perdia a serenidade que me faria menos estressada hoje.
Perdia o amor mais sincero que desde sempre me faz tanta falta.
Perdia a companhia de todas as tardes, que jamais ninguém soube ser.
Perdia meu colo quetinho, que me acomodava com tanto gosto quando alguém me contrariava.
Perdia "o Deus te abeçoe, minha filha" que mais me abençoava.
Perdia o esteio, o caminho, a luz...
Faz 23 anos que meu avô foi embora e deixou a cabeceira da mesa vazia.
Ficamos, fisicamente, sem nosso pai, nosso mestre, nosso amor.
Desde então existimos em partes... Por inteiro só quando estivermos juntos no céu.
São 23 anos de uma saudade tão doce...
Que humanamente jamais compreenderemos.
Mas que Deus sabe bem o porquê.
Isso conforta, mas nunca me acalmou.
Eu tenho reservas de saudade, de lembranças, de amor.
Eu tenho lágrimas suficientes para chorar ainda...
Se eu tivesse o poder de te fazer infinito...
Tu estarias comigo quando quebrei o pé.
Tu estarias comigo quando passei no vestibular.
Tu estarias no portão me esperando quando eu varava a madrugada na festa.
Tu terias visto a Milena, o João, a Débora, a Poli, a Jandi nascerem...
Tu irias se apaixonar pelas aventuras imaginárias da Maria Clara...
E irias te ver no Tetê, porque ele é igualzinho a ti.
E estarias babando nos teus bisnetos, a Vitória, o Rafa e a Giovana...
É, vô, tu já tens bisnetos...
E apesar de 23 anos terem voado...
Todo dia quando vou dormir para mim é 24 de março...
Aí eu choro e teu amor vem me acalmar para eu dormir em paz.
Vô, te amo até a eternidade. Sem medidas.
Fica me esperando, que um dia eu chego aí para estar contigo para sempre.
Não sabes o orgulho que tenho de ser parte de ti!
A tua benção, vô!

Um comentário:

Socorro Carvalho disse...

Puxa, Rúbia!!
Texto lindo!
Amei!
Também sinto saudades de um amor inesquecível, meu pai.
Em seu texto vi refletida essa minha saudade...essa saudade que não passa, mesmo apesar dos 16 anos de distância física, entre nós.
beijos

* Ah, senti sua falta na palestra do Caco...