segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tô com saudade...

Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa,
dói morder a língua,
dói cólica,
cárie e pedra no rim.

Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta
que não se encontra mais.
Saudade do pai que já morreu.
Saudade de um amigo imaginário,
Que nunca existiu.
saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo,
que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida
é a saudade de quem se ama.

Saudade da pele,
do cheiro,
dos beijos.
Saudade da presença,
e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto,
sem se verem,
mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o escritório
e ela para o dentista,
mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la,
ela o dia sem vê-lo,
mas sabiam-se amanhã.

Mas quando o amor de um acaba,
ao outro sobra uma saudade
que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber.
Não saber mais se ele
continua se gripando no inverno.
Não saber mais se ela
continua pintando o cabelo de vermelho.
Não saber se ele
ainda usa a camisa que você deu.
Não saber se ela
foi na consulta com o dermatologista
como prometeu.

Não saber se ele tem comido frango assado,
se ela tem assistido as aulas de espanhol,
se ele aprendeu a entrar na Internet,
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,
se ele continua preferindo Pepsi,
se ela continua sorrindo,
se ele já sabe dançar,
se ela...continua lhe amando.

Saudade é não saber.

Não saber o que fazer com os dias
que ficaram mais compridos,
não saber como encontrar tarefas
que lhe cessem o pensamento,
não saber como frear as lágrimas
diante de uma música,
não saber como vencer a dor de um silêncio
que nada preenche.

Saudade é não querer saber se ele está com outra,
e ao mesmo tempo querer.
É não querer saber se ela está feliz,
e ao mesmo tempo querer.
É não querer saber se ele está mais magro,
se ela está mais bela.

Saudade é nunca mais saber de quem se ama,
e ainda assim,
doer.

Um comentário:

Jornalista Milton Corrêa disse...

Que lindo! Quanta inspiração a partir da dor. Veja que esta também tem seu lado positivo, inspira uma poetisa, que não pode e não deve ficar no anonimato.

Guarde bem o texto poético, para daqui a algum tempo, depois de Raizes de um Jornalista, produzirmos um livro de poesias e esta faço questão, que esteja no contexto do meus textos.
Forte abraço do tiozinho.